CAPIM DOURADO
O ouro do Cerrado
Os frutos dão nas pontas, mas não são comestíveis. Eles são os guardiões das sementes que garantem a perpetuação da espécie.
O pé de capim dourado é uma sapata, que cresce perto do solo e tem 3 ou 4 centímetros de largura.
Cada sapata, em geral, produz duas hastes por ano. No entanto, algumas plantas podem produzir até 20 hastes/ano.
As hastes servem para sustentar as suas flores
Os fios dourados dão vida ao artesanato de tradição quilombola. Foto: DGM - Leo Lopes
Sobre o fruto
O capim dourado (Syngonanthus nitens) é uma haste brilhante com uma pequena flor branca na ponta da família das sempre-vivas. De longe, parece um tipo de grama que reluz em meio à vegetação do semiárido, mas, apesar do nome, não é um tipo de capim, ou seja, não pertence à família das gramíneas. Ele ocorre nas veredas em praticamente todo o Cerrado do Brasil. Porém, existe em maior quantidade no Jalapão, ao leste do estado do Tocantins. Pelas mãos das artesãs da região, a palha é meticulosamente trabalhada se transformando em cestos, bolsas, biojoias e objetos de decoração que garantem renda a centenas de famílias.
Cada pé de capim dourado é uma sapata, que cresce perto do solo e tem 3 ou 4 centímetros de largura. Geralmente essa sapata fica escondida debaixo de todos os outros capins, e é ela que produz as hastes douradas que vemos no artesanato. As hastes servem para sustentar as suas flores, pois na ponta de cada um deles existe uma cabecinha que produz as flores, os frutos e as sementes do capim-dourado. Os frutos não são comestíveis, eles são os guardiões das sementes que garantem a perpetuação da espécie. Cada sapata, em geral, produz duas hastes por ano. No entanto, algumas plantas podem produzir até 20 hastes/ano.
O artesanato de capim dourado inicialmente era feito somente por indígenas da etnia Xerente, do Estado do Tocantins. As peças produzidas por eles eram usadas em casa ou trocadas por outros produtos. Em torno de 1930, a arte de tecer o capim foi aprendida por famílias do Povoado da Mumbuca, na região do Jalapão, quando um grupo de índios Xerentes acampou na região. Desde o final da década de 1990 as peças de capim dourado tornaram-se bastante conhecidas e vendidas.
A partir de 1996, o governo estadual e as prefeituras da região, especialmente a de Mateiros, onde está localizado o Povoado da Mumbuca, passaram a incentivar a produção do artesanato, até então pouco conhecido, e a levar artesãos nas feiras da cidade de Palmas e de outros centros urbanos. Entre 1999 e 2001 houve um grande aumento no número de artesãs. Atualmente, o artesanato de capim dourado é famoso em todo Brasil e concentra o trabalho de 11 associações da região do Jalapão, que comercializam em feiras, lojas em diferentes capitais brasileiras e até no exterior.
A coleta de capim dourado acontece geralmente em setembro, quando as hastes estão maduras. As famílias de extrativistas, além de coletarem em veredas perto de suas casas, muitas vezes montam acampamentos em áreas mais afastadas, onde prolongam a coleta por alguns dias. Uma extrativista consegue colher de 3kg a 4 kg de capim dourado por hora e cerca de 30 kg por dia. Existem artesãs colhendo e fazendo artesanato da planta em diversas regiões do Tocantins, no norte de Goiás e no oeste da Bahia.